A luta contra o vírus

Transmitida por um inimigo antigo, o Aedes aegypti, a zika preocupa o mundo

Uma batalha em que o inimigo não para de se espalhar, causar temor e dúvidas. Nas unidades de saúde, não é raro encontrar alguém com medo de estar com zika, doença que inquieta especialistas. Uma das derrotas já evidentes está no crescimento dos casos de microcefalia.

As pessoas mais vulneráveis socialmente são as principais vítimas. Por outro lado, uma notícia boa: pesquisas avançam e é possível derrotar o Aedes aegypti, mosquito transmissor. Para vencer, o caminho está em ações eficientes do sistema público e na responsabilidade cidadã de cada um.

Next

O Aedes aegypti

O Aedes aegypti é o mosquito vetor que transmite não só a zika, mas também a dengue, a febre chikungunya e a febre amarela. O mosquito é originário do Egito, na África, e vem se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta desde o século 16. No Brasil, segundo pesquisadores, o vetor chegou ainda no período colonial.

Locais do Brasil onde o mosquito assusta

Segundo o Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa) – com dados dos meses de outubro e novembro de 2015 e informações referentes a 1.792 cidades –, um total de 199 municípios brasileiros está em situação de risco de surto de dengue, chikungunya e zika devido à presença significativa do Aedes aegypti.

Confira lista completa dos municípios brasileiros

A classificação, feita com base em dados reunidos pelo Ministério da Saúde, leva em conta o fato de que em mais de 4% das casas visitadas nesses locais foram encontradas larvas do mosquito.

Como o Aedes transmite as doenças?

A fêmea do mosquito pica a pessoa infectada, mantém o vírus na saliva e o retransmite. Não há transmissão pelo contato com um doente.

Os principais sintomas da doença provocada pelo Zika vírus são febre intermitente, erupções na pele, coceira e dor muscular. Os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente em um período de 3 até 7 dias. Segundo médicos, o quadro de zika é muito menos agressivo do que o da dengue.








Entenda a diferença entre os sintomas:

Loading...

Loading...


Afinal, o que é e de onde veio o Zika vírus

Da família Flaviviridae e do gênero Flavivirus, o Zika vírus foi isolado pela primeira vez no fim da década de 1940, por meio de estudos realizados em macacos que habitavam a floresta de Zika, na Uganda. O primeiro caso da doença documentada em um humano é de 1964 e relata os mesmos sintomas observados atualmente. O primeiro surto da doença observado fora dos continentes da Ásia e da África foi registrado em 2007, na Oceania.

Estudos recentes indicam que o Zika vírus está cada vez mais eficiente para infectar humanos.

A expectativa é que entre 3 e 4 milhões de pessoas devem contrair o Zika vírus em 2016 no continente americano. Um total de 1,5 milhão desses casos deve ocorrer no Brasil. A estimativa é da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O cálculo considera o número de infectados por dengue em 2015, e a falta de imunidade da população ao vírus.

A Organização Mundial da Saúde declarou, em 1º de fevereiro, situação de emergência em saúde pública de interesse internacional em razão do aumento de casos de infecção pelo Zika e de uma possível relação da doença com quadros registrados de malformação congênita e síndromes neurológicas.

De acordo com a Opas, pelo menos 22 países e territórios já confirmaram a circulação autóctone (transmissão dentro da própria região) do vírus zika, desde maio de 2015.

Confira onde o Zika já chegou:


Saiba mais sobre a história do Zika

Brasil vive “primeira grande epidemia de zika” do mundo, diz especialista

Zika: epidemia se espalha e já são 30 os países com registros da doença

Instituto do Cérebro lança nova frente de pesquisa sobre o Zika vírus

Expansão de espaços urbanos também é culpada

A partir da década de 1950, houve os primeiros registros e pesquisas em relação ao Zika vírus no Brasil. No entanto, chegou a ser considerada uma doença erradicada. O país era outro. A desordenada expansão dos espaços urbanos, particularmente nas metrópoles, conferiu as condições ideais para que o Aedes aegypti ganhasse força e se adaptasse ainda mais às condições geográficas. O país tinha pouco mais de 50 milhões de habitantes, cerca de 25% da nossa população atual.

Imagens do programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil. Confira a íntegra

“Hoje temos muitas áreas adensadas e mal estruturadas com características que podem favorecer o Aedes aegypti, e que não permitem falarmos sobre erradicação, mas de controle da doença”, diz a bióloga Maria Alice Varjal. O governo concorda que não é possível ainda pensar em fim do problema. “Mesmo que se consiga temporariamente reduzir a quantidade de mosquitos que há numa localidade, se esse controle for relaxado, o mosquito volta”, afirma o diretor de Vigilância das Doenças Transmissíveis, Claudio Maierovitch.

O Zika e a microcefalia: Temor na gravidez

A ansiedade comum das futuras mamães ganhou novos sentimentos e contornos desde o ano passado. “Tenho medo de a criança vir com a cabeça pequena”, diz Roselane Santana, de oito meses de gravidez. "Tenho até pesadelo da criança vir com alguma coisa. Medo de o médico dizer alguma coisa", afirma Bruna Barbosa. “Eu estou ansiosa para que nasça logo”, emociona-se Daniele Silva.

As três donas de casa moram na periferia do Recife (PE), capital do estado com o maior número de casos de microcefalia associados ao Zika vírus. Segundo boletim do Ministério da Saúde, havia, até o final de janeiro deste ano, nada menos do que 1.263 notificações confirmadas ou em investigação da relação entre o problema na formação da criança e a doença provocada pelo vírus.

Imagens do programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil. Confira a íntegra

Neste ano, cientistas do Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz, confirmaram que o vírus Zika consegue ultrapassar a placenta durante a gestação, o que reforça a suspeita de que a infecção em mulheres grávidas pode provocar um aumento nos casos de microcefalia registrados no Brasil.

A análise foi feita a partir de amostras de uma paciente na Região Nordeste que sofreu um aborto retido (quando o feto para de se desenvolver dentro do útero) na oitava semana de gravidez, após apresentar sintomas de infecção pelo vírus Zika.


A relação entre o aumento de microcefalia, particularmente no Nordeste brasileiro, e a infecção pelo Zika foi confirmada pelo Ministério da Saúde no dia 28 de novembro de 2015. Desde então, foi emitido um alerta epidemiológico pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e cientistas passaram a investigar as inúmeras variáveis e dúvidas relacionadas ao problema. Muitas perguntas permanecem sem respostas. Mas a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), no entanto, se apoia em alguns fatos concretos já respondidos.

View Casos de microcefalia por estado in a full screen map


Leia Também

O que é Microcefalia

Zika e gravidez: tire dúvidas sobre a relação entre o vírus e a microcefalia

Ministério da Saúde revê critério para diagnóstico inicial de microcefalia

Saúde lança protocolo emergencial de vigilância e resposta à microcefalia

Um dos problemas é que algumas mulheres podem não saber que têm o vírus, por não terem apresentado sintomas. Apenas uma em cada quatro pessoas apresentam sintomas de infecção por zika e, entre as que são afetadas, a doença é geralmente leve.

Segundo análise dos especialistas, “provavelmente” o maior risco de aparição de microcefalia e malformações está associado à infecção no primeiro trimestre da gravidez. “Por isso, todas as pessoas, incluindo grávidas e mulheres em idade reprodutiva, devem evitar a exposição a picadas de mosquito, com roupas que cubram a pele e mosquiteiros tratados com inseticida, além dos repelentes indicados pelas autoridades de saúde”, aponta a Opas.

Outra informação é que a transmissão perinatal tem sido relatada com vírus transmitidos por vetores, como dengue e chikungunya. “No momento, estão em curso estudos sobre a possível transmissão do vírus da mãe para o bebê e seus possíveis efeitos sobre a criança. Os serviços de saúde devem acompanhar as gestantes em geral e, particularmente, aquelas com sintomas de infecção por zika”.

A dona de casa Bruna Barbosa, mais do que medo, tem vasculhado a casa atrás de qualquer possibilidade de acúmulo de água. Além disso, o uso de repelentes passou a fazer parte da rotina dela. “E eu passo bastante pra ficar bem branco porque é pra garantir”. O uso do produto por grávidas é recomendado pelo Ministério da Saúde, desde que tenha certificado da Anvisa.

A importância do uso de repelentes

Segundo os médicos, para que o repelente funcione tem que ser reaplicado constantemente, pelo menos a cada duas horas. Os repelentes naturais, como os a base de citronela e óleo de cravo não tem eficácia comprovada. São substâncias seguras no repelente paras as mães: DEET, Icaridina, e IR3535. Por isso, é necessário observar o rótulo desses produtos.

Engravidar ou não?

Imagens do programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil. Confira a íntegra

Médicos chegaram a recomendar que fosse adiada uma gravidez enquanto não se conhece, com mais detalhes, os efeitos do Zika Vírus em relação ao feto. O tema é polêmico e causa divergência entre os especialistas. “Postergar essa gravidez pode ser uma medida salutar. Não porque não se tem o controle da doença, mas porque não se conhece totalmente. As mulheres que possam esperar deveriam adiar um pouco até que a ciência possa descrever melhor essa doença”, afirma o professor de medicina tropical, Kléber Cruz, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A ginecologista Adriana Scavuzzi, que é coordenadora de Atenção à Saúde da Mulher de um dos principais hospitais pernambucanos, discorda dessa recomendação. “Não existe essa orientação massificada. Eu acho que a gente colocar uma informação como essa, de forma generalizada, é tão grave quanto dizer para não tomar cuidado algum”, aponta.

Ainda tem dúvidas? Confira uma lista de perguntas e respostas sobre o Zika e sua relação com a microcefalia.


Histórias: A vida com microcefalia

O diagnóstico, apresentado pelo nome estranho “microcefalia”, ainda no pré-natal, assusta famílias. Saber que a cabeça será menor do que o padrão esperado é apenas parte da mudança sentida imediatamente. A mãe e toda a família ficam sabendo que a criança, tão esperada por nove meses, precisará, durante toda a vida, de apoio diante das limitações. Ainda impactada pela novidade, a pernambucana Maria Ângela Braz, que teve Zika vírus no início da gravidez, está em dúvida de como será o futuro de Isadora, com um mês de vida. “Fiquei triste”, desabafa.

Imagens do programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil. Confira a íntegra

Para Verônica Maia, a notícia também foi um choque. “Quando a gente engravida, pede a Deus que a criança venha saudável”. Mas, ao saber que João Guilherme, com dois meses, teria microcefalia, a mãe passou a se dedicar em compreender como estimularia o filho, todos os dias, em casa. “Tá aqui o meu bebê lindo, perfeito, com microcefalia, bem diferente do que eu vi nas imagens da internet. Eu amo demais as minhas três filhas, mas assim, por João o amor é diferente. Eu acho que é mais intenso, é mais protetor, porque minhas meninas são perfeitas.”

Elaine Carvalho, mãe de Beatriz, de 10 anos, transformou a angústia e as dúvidas em ação solidária, ao criar um blog com as experiências e a evolução da menina. “É possível viajar, é possível passear, é possível fazer tudo com uma criança especial e a Bia faz muita coisa”. A microcefalia cria dificuldades para a criança se movimentar e falar, mas a família comemora a evolução da garota graças a terapias de fonoaudiologia e fisioterapia.

Conheça histórias de mães de crianças com a deficiência

Zika e gravidez: tire dúvidas sobre a relação entre o vírus e a microcefalia

Estimulação precoce promove desenvolvimento de bebês com microcefalia

Mães de crianças com microcefalia fazem campanha informativa no Facebook

A ciência como aliada no combate ao Aedes

Uma das formas mais conhecidas de combate ao Aedes aegypti – além do controle da reprodução do mosquito em água parada –, é a pulverização de inseticida, popularmente conhecido como fumacê. A nuvem de fumaça de inseticida espalhada pelas ruas tenta matar o mosquito.

Porém, a ação tem efeito temporário e pontual, não sendo considerada o método ideal para acabar com o mosquito. Sendo assim, pesquisas diversas têm lançado maneiras biológicas e secundárias no combate ao vetor.

Conheça algumas delas:

Imagens do programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil. Confira a íntegra

  
Mosquitos geneticamente modificados: mosquitos machos, que não picam as pessoas e carregam um gene autolimitante que faz com que seus filhotes morram ainda na fase de larva.
Plantas da Caatinga que matam as larvas:A cutia e a umburana, por terem compostos que funcionam como biopesticidas, são capazes de exterminar até 50% das larvas dos mosquitos.
Bactérias impedem Aedes de transmitir vírus: ferramenta inocula a bactéria Wolbachia no mosquito vetor dessas doenças. A partir daí, o mosquito perde a capacidade de transmitir o vírus ao ser humano e passa a bactéria para seus descendentes.
Conhecimento indígena: índios apontam que o mosquito da dengue fica mais ativo com brilho da Lua Cheia. Informação pode ser utilizada no combate ao vetor.

Confira as últimas notícias sobre o Zika em: www.agenciabrasil.com.br


Teste seus conhecimentos: Saiba quais são os mitos e verdades sobre o Zika vírus


Ficou em dúvida sobre alguma resposta? Confira a explicação completa no: Portal EBC