Cinco perguntas sobre a pesquisa espacial

Gilberto Costa – Repórter da Agência Brasil


Assim como o ataque terrorista à Nova York em 11 de setembro de 2001 e o acidente que matou Ayrton Senna (em maio de 1994), a chegada do homem à Lua é lembrança fácil dos brasileiros que presenciaram pela televisão via satélite o acontecimento, como algumas fontes entrevistadas pela Agência Brasil para tratar do programa espacial que levou o homem à Lua em 1969.


O episódio marcou a memória do engenheiro mecânico e professor Luís Eduardo Loures da Costa, responsável pelo projeto Itasat-1, um microssatélite brasileiro construído pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).


Em entrevista por escrito, Loures da Costa responde cinco perguntas sobre o passado e o futuro da pesquisa espacial.

Loures da Costa - Sim, eu me lembro perfeitamente. Estava na casa de minha avó em Copacabana [Rio de Janeiro], quando a transmissão ocorreu. Eu me lembro que foi em tempo real, ou seja, eles estavam transmitindo direto. Eu tinha 10 anos apenas, mas as viagens espaciais tripuladas eram frequentes naquele tempo e sempre se tinha informação das missões americanas.

Loures da Costa - A tecnologia evoluiu, mas em outras aplicações. Hoje é possível se observar satélites utilizando propulsão elétrica. O Saturno V utilizava um par composto de hidrogênio líquido e oxigênio líquido e isso é difícil de fazer mesmo hoje devido às baixas temperaturas do hidrogênio líquido. Dito isso, o máximo que se poderia fazer hoje em dia com este tipo de tecnologia para esta aplicação não seria reduzir o tamanho, pois o tamanho é majoritariamente definido pela quantidade de combustível e oxidante carregados, mas sim otimizar o desempenho do motor.

Loures da Costa -O que me vem à mente é a poeira lunar, denominada de regolito. Muito fina, esta poeira tem propriedades singulares, como a capacidade de se impregnar em tudo, especialmente reagindo à umidade e campos elétricos, formando uma massa grudenta. Os astronautas reportaram que tinha cheiro de pólvora queimada, mas isso foi a forma deles traduzirem a experiência que estavam vivendo em conceitos familiares, pois a poeira era formada basicamente por pó muito fino de sílica. Quanto às rochas, não tenho maiores informações, apenas que a maior parte delas não era incomum, exceto as colhidas pela última missão, a Apollo 17, pois essa missão foi definida basicamente por geólogos e não por engenheiros, o que proporcionou um local de pouso mais interessante sob o ponto de vista da geologia.

Loures da Costa - A influência é direta, pois devido ao voo de Gagarin, o presidente Jânio Quadros criou o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais em 1961, composto basicamente pelo então Ministério da Aeronáutica e formado pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA) com seus institutos: o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD). A influência da missão Apollo 11 é difícil de quantificar, mas já em 1969, o Programa Espacial Brasileiro já era composto por uma parte civil, além da [parte] militar. Essa divisão ocasionou a criação de dois institutos: o Instituto de Atividades Espaciais (IAE), militar, em 1969; e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), civil, em 1971.

Loures da Costa - Creio que há hoje uma janela de oportunidades para o Brasil, com a utilização do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) para lançamentos comerciais, que envolvam as firmas de diferentes países que tenham interesse em explorar a excelente localização geográfica deste centro, e o desenvolvimento de pequenos satélites. Com relação ao primeiro caso, eu creio que o Brasil tenha uma vocação natural para trabalhar com pequenos lançadores de satélites e explorar este nicho de mercado, tanto com empreendimentos brasileiros, como com empreendimentos estrangeiros e, eventualmente, com associações entre empresas brasileiras e estrangeiras. Quanto aos pequenos satélites, houve uma explosão desta tecnologia nestes últimos anos e o Brasil está trabalhando forte para se manter alinhado com os desenvolvimentos internacionais. A advertência que se deve fazer é que esta janela de oportunidades não vai ficar aberta para sempre, portanto é necessário superarmos as divisões internas do país em prol de um futuro promissor, nos transformando em protagonistas desta história espacial.